
Brasil tem 28% da área irrigada com conectividade, aponta estudo
Apesar de os pivôs centrais de irrigação estarem entre as tecnologias mais modernas do agronegócio, a conectividade nas regiões onde são instalados ainda é bastante limitada. No Brasil, apenas 28,26% da área total irrigada por pivô conta com cobertura móvel de internet 4G ou 5G, aponta o estudo ‘Conectividade na Irrigação’. O levantamento foi realizado pela Conectar Agro em parceria com a Universidade Federal de Viçosa.
Da área total irrigada, apenas 13,55% dos pivôs possuem 100% de sua área coberta por sinal, o que significa que a maioria das áreas irrigadas ainda opera sem suporte adequado de tecnologias digitais. Para Paola Campiello, presidente da Conectar Agro, os números reforçam a disparidade entre o avanço da mecanização agrícola e a infraestrutura digital disponível no campo. “O grande produtor já conecta o campo. Mas o pequeno produtor, que representa 80% do que nos alimenta, não têm conectividade porque não consegue infraestrutura de telecomunicações”, afirmou em conversa com o Agro Estadão.
A pesquisa mostra grande desigualdade regional. Minas Gerais, que lidera o ranking nacional de área irrigada, registra 26,54% de cobertura nos pivôs centrais. Enquanto isso, São Paulo — com mais de 247 mil hectares irrigados — apresenta um índice superior: 53,45%. Já em Mato Grosso, Estado líder na produção nacional de grãos, a cobertura é de 25,15%.
Em contraste, Rondônia, com 656 mil hectares de área com pivôs, não tem nenhuma área irrigada com conexão, e Santa Catarina aparece com apenas 1%. (Confira a tabela completa abaixo).
Municípios
No nível municipal, o contraste se acentua. Paracatu (MG), que possui a maior área irrigada do Brasil, tem somente 1,58% da área com cobertura de internet móvel. Já Luís Eduardo Magalhães (BA), importante polo da região do MATOPIBA, registra 51,7%. Outros municípios de destaque, como Cristalina (GO) e Sorriso (MT), ficam no meio do caminho, com 37,57% e 28,80% de cobertura, respectivamente.
De acordo com Paola, o principal gargalo em todos os casos é a infraestrutura de telecomunicações em regiões rurais e remotas, muitas vezes sem acesso sequer à energia elétrica. “O primeiro ponto é que precisamos de infraestrutura. O nosso país é gigante e existem áreas que nem têm energia elétrica. Tem regiões em Mato Grosso, por exemplo, onde as pessoas dependem de geradores a diesel. Então, esse é o primeiro ponto: infraestrutura”, sinaliza.
Caminhos
Para Campiello, a ampliação da conectividade em áreas irrigadas pode trazer ganhos imediatos em sustentabilidade e eficiência. “Imagina se eu tivesse conectividade para fazer monitoramento em tempo real da irrigação e cruzar com análise climática. O produtor só vai irrigar quando houver necessidade, gerando economia de água e maior controle no uso dos recursos”, disse.
Uma das saídas apontadas por ela é tornar o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, conhecido como Fust, mais efetivo no meio rural. Criado em 2000, o fundo visa destinar recursos para cobrir custos de implantação de serviços de telecomunicações e promover a universalização do acesso à internet e outros serviços digitais.
Mas, segundo a presidente do Conectar Agro, hoje, os recursos do Fust estão concentrados em conectar escolas. “É preciso ir além da sala de aula. O estudante sai da escola e volta para uma casa sem internet. E o pequeno produtor também precisa de dados básicos para decidir o momento de irrigar, plantar ou pulverizar”, destacou.
Modelo de sucesso
Além disso, modelos estaduais têm chamado a atenção como possíveis soluções para acelerar a conectividade no campo. Um dos exemplos citados por Campiello vem do Paraná. Por lá, recentemente, houve a aprovação de um projeto de Lei (PL) que permite o repasse de créditos de ICMS para operadoras investirem em infraestrutura de conectividade no campo.
Em Minas Gerais, tramita um projeto semelhante. O PL 3755/2025, que aguarda a votação da redação final em plenário da Assembleia, visa instituir a política de fomento à conectividade e telefonia celular no Estado. Se aprovado, seguirá para sanção do governador Romeu Zema. “Se aplicado, pode transformar um estado que concentra a maior área irrigada do país, mas que ainda tem municípios como Paracatu com menos de 2% de cobertura”, afirmou Campiello.
A executiva lembra ainda que ampliar a rede digital no campo é também um fator de inclusão social e de sucessão familiar. “Na Alemanha, 90% da área rural é conectada, enquanto no Brasil não chegamos a 33%. Mais conectividade significa maior produtividade, mas também oportunidade de fixar jovens no campo e reduzir o êxodo rural. Isso é tão estratégico quanto a irrigação”, pontua.
FONTE: AGROESTADAO